Terapia de Casal: Como Avaliar a Saúde do Seu Relacionamento?

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Manter um relacionamento saudável e harmonioso exige dedicação, diálogo e compreensão mútua. No entanto, muitas vezes, os casais enfrentam desafios que podem gerar conflitos e desgastes na convivência. Para fortalecer a relação e evitar problemas futuros, é fundamental avaliar diferentes aspectos da vida a dois.

Com base na minha experiência profissional e pessoal, elenquei algumas áreas essenciais que impactam a qualidade do relacionamento e que, quando trabalhadas em casal, podem contribuir para a manutenção e o equilíbrio da vida a dois:

1. Comunicação – A pedra angular de qualquer relacionamento;

Já ouviu o ditado que diz: “O combinado não sai caro”? Quando o casal consegue expressar seus sentimentos e necessidades com clareza e de forma respeitosa, qualquer desafio se torna menor. Lembre-se de que, para a comunicação ser eficaz, é necessário haver um interlocutor e um receptor. Escute e fale de forma apropriada. Elevar o tom, esbravejar e xingar não contribui em nada para a conversa. Tente falar da forma que gostaria de ser tratado; isso ajuda muito. Afinal, ambos estão no mesmo time e não existe vencedor ou perdedor. Se um sai magoado ou diminuído depois de um alinhamento, ninguém ganhou nada. Por fim, tudo precisa ser dito: falem sobre tudo o que for necessário, sem medos e sem tabus.

2. Decisões Compartilhadas – Quem decide o que?

Para evitar sobrecargas ou desequilíbrio de papéis, compartilhem as decisões importantes. Para as coisas simples, se puder fazer, faça! Mas mantenham um ao outro informado. Em qualquer sociedade democrática, as decisões mais importantes são votadas, portanto, conversem a respeito e decidam juntos. Quando discordarem, busquem o meio-termo. Tentem agir no curto prazo com pensamento de longo prazo.

3. Finanças – O grande vilão;

Toda literatura sobre finanças que já tive acesso recomenda um esquema de gestão simples, onde se registra o que entra e o que sai por mês. Cada casal tem seu próprio estilo de organização: alguns mantêm contas e receitas separadas, outros juntam tudo, outros emprestam um ao outro, etc. Gosto de pensar que o casal é uma sociedade. Embora possa haver disparidade de rendas, para evitar alternância de poder ou co-dependência, sugiro que juntem receitas, despesas e investimentos, tomando decisões em conjunto. O “lucro” pode ser distribuído ou rateado de acordo com a participação de cada um na entrada de receitas. Muito ou pouco dinheiro pode afetar o relacionamento, portanto, recomendo que o “livro-caixa” esteja acessível a ambos para que tomem decisões em conjunto. Essa é uma das áreas que mais desgasta um relacionamento quando não está bem organizada.

4. Relacionamento Sexual – Diversão e troca;

Este é um grande tabu para a sociedade como um todo. Embora o sexo seja um dos fatores que define ou sacramenta um casal (pelo menos no senso comum), muitos casais têm uma vida sexual insatisfatória. Os fatores são diversos, mas normalmente estão relacionados à frequência e à falta de diálogo sobre o próprio desejo. Não existe um consenso literário sobre a frequência ideal do ato sexual, pois esse é um combinado que precisa ser satisfatório para ambos, e esse ponto de equilíbrio só é alcançado com conversa. Sexo não é apenas penetração; existem inúmeras formas de realizar desejos desde que combinadas previamente. Entretanto, por vergonha ou falta de criatividade, muitos casais acabam entrando em crise por esse fator, que deveria ser uma fonte de troca e amor, e não de tensão ou estresse.

5. Lazer e Tempo Juntos – Recarregar energia;

É muito importante que o casal tenha tempo de qualidade juntos, assim como também é essencial preservar sua individualidade. A beleza de estar com alguém está em curtir a companhia do outro, independentemente da atividade (inclusive o ócio). Evite obrigar o parceiro a fazer algo, respeite o tempo e o espaço de cada um. Façam concessões e encontrem equilíbrio entre o lazer individual e o lazer compartilhado. Sejam criativos como eram no início do relacionamento. Por vezes, esquecemos que ambos estão no mesmo barco, e a responsabilidade é de ambos. Leveza é fundamental.

6. Família e Relacionamentos Externos – Alerta de ciúme;

O equilíbrio entre individualidade e atividades em conjunto também vale para influências externas. A presença da família e dos amigos é sempre bem-vinda quando há respeito e uma distância segura. Conselhos também são valiosos, desde que não estejam atravessados por viés ou interesse. Ambos devem preservar suas relações afetivas com outras pessoas, pois antes de sermos um casal, somos indivíduos. Use o bom senso para evitar que o ciúmes saudável se torne algo doentio.

7. Divisão de Tarefas e Responsabilidades – Dever de casa;

As responsabilidades do dia a dia, como tarefas domésticas e cuidados com os filhos, estão sendo distribuídas de forma justa? Há um ditado que diz: onde existe um sobrecarregado, há um folgado. O equilíbrio das atividades é essencial para que ambos tenham energia suficiente para dedicar um ao outro. Vale lembrar que o cuidado com a casa é uma responsabilidade compartilhada — lavar a louça, cozinhar e limpar não são obrigações exclusivas da mulher. Além disso, há algo de terapêutico nessas atividades, mas o preconceito muitas vezes impede que isso seja percebido. Experimentem realizá-las juntos: cuidar da casa, cozinhar ou até lavar o carro pode deixar de ser uma tarefa tediosa e se transformar em um momento divertido, desde que haja divisão equilibrada de papéis e responsabilidades.

8. Planos para o Futuro – Teoria dos conjuntos;

Este é outro fator que, quando desalinhado, pode levar um relacionamento à ruína. Já atendi casos em que um dos parceiros desejava viajar o mundo, enquanto o outro queria morar no terreno dos pais e permanecer na mesma rua até o fim da vida. Não há certo ou errado nessas escolhas, mas elas se tornam incompatíveis se não houver flexibilidade. Incluam um ao outro em seus planos, preservem seus sonhos individuais, mas busquem a inclusão do parceiro. Qual seria o meio-termo? Lembrem-se de que somos naturalmente contraditórios: o que temos como certeza hoje pode se tornar uma dúvida amanhã, caso estejamos abertos às possibilidades que a vida nos apresenta. Trabalhem para alinhar os objetivos individuais e do casal. Conversem sobre carreira, filhos, mudanças de cidade. Muitos casais em relacionamentos de longo prazo acreditam saber exatamente o que o outro quer ou pensa, mas sugiro que perguntem — e me arrisco a dizer que podem se surpreender.

9. Conflitos e Resolução de Problemas – Quando nem tudo são flores;

Todo relacionamento passa por momentos de tensão. Discordâncias e conflitos são naturais, mas a maneira como o casal lida com eles faz toda a diferença. O problema não é o conflito em si pois ele é a constante de qualquer casal, mas sim a falta de habilidades para resolvê-lo de forma saudável. O casal consegue conversar sobre suas diferenças sem transformar a discussão em uma batalha? Há espaço para escuta ativa e respeito mútuo? Ou os desentendimentos se tornam ciclos repetitivos de acusações e mágoas não resolvidas? Evite os “Jogos de Poder” no calor da discussão, muitas vezes o objetivo passa a ser “vencer” a briga, e não resolver o problema. Mas, em um relacionamento, quando um perde, os dois perdem. Cuidado com o Acúmulo de Ressentimentos, pequenos desentendimentos não resolvidos podem se transformar em grandes frustrações. Se algo incomoda, converse sobre isso antes que se torne um peso difícil de carregar. Cuidado com as palavras ditas em momentos de raiva podem ferir profundamente e deixar marcas difíceis de apagar. Aprendam a pedir e oferecer perdão, o perdão não significa esquecer ou minimizar um problema, mas sim dar um novo significado a ele e seguir em frente sem carregar rancores. O conflito é uma grande oportunidade de evoluir pois ele falta de um ponto de intersecção entre o casal, depois que resolvido este provavelmente nunca mais será um problema.

10. Confiança e Segurança – Você tem fé em si mesmo?

Um relacionamento saudável precisa de dois pilares fundamentais: confiança e segurança emocional. Sem isso, qualquer pequena incerteza pode se transformar em um turbilhão de inseguranças, dúvidas e desgastes. Mas antes de falar sobre confiar no outro, é essencial refletir: você confia em si mesmo? Se sente seguro em quem você é, no que oferece ao relacionamento e na sua capacidade de lidar com desafios? Muitas vezes, a insegurança que projetamos no parceiro tem mais a ver com nossos próprios medos do que com algo real na relação. Confiança se constrói, não se impõe! Não basta exigir confiança, é preciso cultivá-la através da transparência, da coerência entre palavras e ações e do respeito mútuo.
Ciúmes em excesso é um sintoma, não uma prova de amor. Pequenas doses de ciúmes podem ser normais, mas quando ele se torna controlador ou sufocante, pode indicar insegurança e falta de confiança. Por mais que possa soar contraditório a independência fortalece o vínculo. Ter uma identidade própria dentro do relacionamento é essencial. Se apoiar no outro é importante, mas a dependência emocional pode se tornar um peso para ambos. A confiança não significa ausência de problemas, mas sim a certeza de que, independentemente do que aconteça, o casal tem maturidade para conversar, ajustar rotas e seguir em frente juntos. Ter fé em si mesmo e no outro é um passo super importante para construir um relacionamento seguro e verdadeiro.

Conclusão

Minha experiência clínica no atendimento a casais revela três pontos fundamentais que podem ser determinantes para a continuidade do relacionamento: Confiança (traição de princípios ou amorosa), Finanças (muito ou pouco dinheiro) e Planos para o Futuro (projetos de vida incompatíveis). Refletir sobre essas e outras áreas pode ajudar o casal a identificar pontos de melhoria e fortalecer a relação. A terapia de casal é uma excelente ferramenta para mediar conversas difíceis e promover maior compreensão entre os parceiros. Investir no relacionamento é um passo essencial para construir uma relação duradoura e feliz. Espero que estes pontos que eu compartilhei aqui ajudem a olhar para seu relacionamento e encontrar alguns pontos de melhoria.

Aproveito para par compartilhar dez questões que formulei que pode ajudar o casal a perceber em que pagina estão e rememorar os fatores que levaram a escolha de ficar juntos;

Questionario

1. Como vocês se conheceram? Onde? Circunstâncias?

2. O que atraiu você no seu parceiro?

3. Quais dessas características estão presentes?

4. Quais foram os principais eventos da época em que vocês se conheceram até quando decidiram se casar?

5. Como vocês se relacionavam durante esse período de tempo – brigas, afeição, comunicação, diversão juntos etc?

6. Quais foram os principais eventos, tanto positivos quanto negativos, que aconteceram desde que vocês se casaram?

7 . Quando cada um de vocês percebeu primeiro que seu relacionamento estava passando por dificuldades significativas?

8. Como vocês decidiram buscar aconselhamento neste momento?

9. Algum de vocês foi casado ou teve um relacionamento mais sério anteriormente?

10. Quais foram as suas contribuições que você percebeu para as dificuldades no seu relacionamento anterior?