Filme: A Pé Ele Não Vai Longe (2018)

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Nome Original: Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot
Data de lançamento: 28 de dezembro de 2018 (Brasil)
Diretor: Gus Van Sant
Elenco: Joaquin Phoenix, Jonah Hill, Rooney Mara, Jack Black

Olá pessoal, tudo bem?
Hoje venho aqui compartilhar algumas impressões sobre este filme de comédia/drama “A Pé Ele Não Vai Longe” (2018), que conta a história real de John Callahan, um cartunista alcoolista que, após um grave acidente de carro, torna-se paraplégico e precisa enfrentar sua nova realidade e sua dependência do álcool. A jornada de John é marcada pelo processo de recuperação emocional e pela busca por um novo sentido na vida, o que pra mim torna o filme uma excelente obra para reflexão psicológica.

A Dependência Química e a Fuga Emocional

John Callahan vive um padrão comum em muitas histórias de dependência química: o álcool como um refúgio para lidar com traumas, vazios emocionais e aceitação social. O filme retrata como a dependência é multifatorial, envolvendo questões genéticas, história de vida e dificuldades emocionais. Muitas vezes, o uso abusivo de substâncias é uma tentativa de evitar a dor interna, o que torna a reabilitação um processo profundo de autoconhecimento e aceitação.

Os 12 Passos dos Alcoólicos Anônimos e a Redescoberta do Eu

O filme apresenta a jornada de John pelos 12 Passos dos Alcoólicos Anônimos (AA), um processo que vai além da sobriedade física, promovendo transformação interna. Mesmo que estes 12 passos tenham uma forte influência espiritual, podemos perceber este “porder superior” tanto como Deus, quanto um principio filosofico maior (Gosto de pensar como seu poder superior, ou sua versão ideal). Na minha perspectiva os aspectos que mais marcaram no filme foram:

  1. Aceitação da realidade e busca por ajuda: Quando ele reconhece suas vulnerabilidades e percebe que pessoas estão dispostas a ajudar, noto que é um momento crucial para a mudança.
  2. Responsabilização pelos erros do passado: John revisita suas dores, reconhece as consequências de suas ações e busca repará-las.
  3. Compromisso com a mudança e conexão com um novo sentido de vida: John visualiza sua versão ideal e se abre as possibilidades de mudança para os padrões destrutivos. Quando ele se abre para novas formas de viver e pensar ele acaba encontrando na arte um caminho de expressão e ressignificação.

A Arte Como Terapia e Ressignificação da Dor

O filme destaca como a arte pode ser uma ferramenta terapêutica poderosa. John Callahan descobre sua paixão pela ilustração e, por meio de suas charges, consegue canalizar sua dor, suas angústias e reflexões de maneira criativa. A arte oferece a ele um novo sentido de vida, ajudando-o a se reconstruir emocionalmente.

Na psicoterapia, muitas abordagens valorizam a expressão criativa como forma de processamento emocional. A arte permite que sentimentos sejam externalizados de maneira simbólica, facilitando a elaboração de experiências traumáticas e promovendo um senso de identidade renovado. Um exemplo notável desse conceito no Brasil é o trabalho da psiquiatra Nise da Silveira, que utilizava a arte como meio terapêutico para pacientes psiquiátricos. Nise acreditava que a criatividade poderia ser um canal de expressão do inconsciente e uma forma de reorganizar a subjetividade dos pacientes, promovendo não apenas alívio emocional, mas também reinserção social. Assim como no caso de John Callahan, a arte se torna um instrumento de ressignificação da dor e um caminho para a reconstrução da identidade.

Conclusão

A Pé Ele Não Vai Longe é um filme que nos lembra da capacidade humana de transformação, mesmo quando a vida parece ter feito “uma curva muito acentuada” e altera sua autopercepção e identidade. A jornada de John Callahan mostra que neste caso a reabilitação vai além da abstinência ou o uso consciente: trata-se de reconstruir-se emocionalmente, perdoar-se e perdoar os outros e encontrar novos significados para a existência o que é muito simbolico e pedagogico.

Para aqueles que lidam com a dependência química ou buscam apoiar alguém nesse processo, o filme é uma inspiração sobre como a vulnerabilidade pode ser transformada em força. Afinal, como John descobre, mesmo com limitações, é possível ir longe.

Obrigado por ler minhas reflexões a respeito deste filme. Eu gosto muito dos atores envolvidos neste projeto e não tinha visto muita coisa a respeito dele. Foi um filme que me surpreendeu positivamente e espero que este texto te provocaque a conferir.

Grande abraço e até a proxima!!